domingo, 11 de outubro de 2009

O Curso de Pedagogia da UFRPE tirou nota 5 no ENADE

SEMANA DO PROFESSOR
Eles ensinam o que não aprenderam
Publicado em 11.10.2009
Resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) revela as carências da formação de docentes no interior pernambucano

Margarida Azevedo

mazevedo@jc.com.br

Sete docentes da Faculdade de Formação de Professores de Petrolina, no Sertão do Estado, pediram demissão no último ano. O doutor em letras Bruno Siqueira, 34 anos, aguentou um ano e meio. Em tão pouco tempo, decepcionou-se com o que encontrou. Abriu mão da vaga no serviço público estadual, depois de constatar a dificuldade de realizar um bom trabalho na instituição, ligada à Universidade de Pernambuco (UPE). Seu desabafo é o mesmo de outros colegas de faculdades públicas do Estado. O resultado de Pernambuco no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) do ano passado, divulgado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC), revelou a preocupação de Bruno: as faculdades de formação de professores, com poucas exceções, não preparam bons profissionais. Na semana em que se comemora o Dia do Professor, o JC mostra um grave problema: os futuros docentes chegam às salas de aula da educação básica sem ter aprendido, na educação superior, o que deveriam ensinar.

No Estado, mais da metade dos cursos de educação nas instituições públicas avaliadas no Enade tiraram notas baixas. Das 67 graduações em pedagogia e licenciaturas participantes, 38 tiveram notas 1 ou 2, consideradas as piores. Realidade que não está restrita às faculdades públicas. As entidades privadas também apresentaram médias baixas. No Brasil, dos 763 cursos de pedagogia avaliados, entre públicos e particulares, somente 32 (menos de 10%) alcançaram a nota máxima, 5. Neste grupo está a Universidade Federal Rural de Pernambuco. O Enade é uma avaliação aplicada todos os anos pelo MEC em diferentes áreas de conhecimento. Participam alunos que estão ingressando e outros que estão concluindo a universidade. O conceito Enade leva em conta apenas o desempenho dos concluintes. Vai de 1, o mais fraco, a 5, o melhor.

Currículos defasados, pouca relação entre teoria e prática, estágios sem acompanhamento correto e infraestrutura deficiente são ingredientes que fragilizam a formação de quem atuará como educador. “Na UPE, as faculdades funcionam como uma extensão do ensino médio. Nossa formação está mais para educação básica do que superior. Tem que haver prioridade para investimento nas licenciaturas”, ressalta o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Divonaldo Barbosa, ex-aluno da UPE de Petrolina e atualmente aluno da unidade da UPE de Nazaré da Mata.

Para a coordenadora do curso de letras de Petrolina, Maria Aparecida Brandão, um dos maiores problemas é a carga horária extensa que os docentes precisam encarar. “Isso inviabiliza a pesquisa e a extensão. Há um professor substituto, por exemplo, que está com sete disciplinas este semestre”, conta. A vice-diretora da faculdade, Leilyane Coelho, reconhece os problemas, mas diz que medidas estão sendo tomadas para melhorar a qualidade dos cursos. Um prédio em construção, com previsão de conclusão no próximo ano, deverá sanar as dificuldades de infraestrutura. Também está em andamento um concurso para preencher 19 vagas de docentes e novos livros para o acervo da biblioteca serão adquiridos.

AUTARQUIAS

Em Serra Talhada, também no Sertão, Gláucia Carvalho, 30, cursa o penúltimo ano de licenciatura em matemática. Na instituição em que estuda, a Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada, há laboratório de matemática. Mas Gláucia entrou lá apenas uma vez para ter aula prática, embora esteja no sexto período. O curso tem oito semestres. “Acho deficiente a parte prática do curso, deixa muito a desejar. Mas acredito que a boa formação não depende só do professor ou da faculdade. Tem que haver também interesse do aluno”, diz Gláucia, que mora na cidade vizinha de São José do Belmonte.

A instituição ficou com três notas baixas no Enade – 1 em letras, 1 em matemática e 2 em história. “Contratamos uma consultoria para saber o que aconteceu. Mas nunca recebemos visita do MEC. Também não tivemos nenhuma orientação. Temos boa estrutura física e professores comprometidos com o ensino”, assegura o coordenador pedagógico da instituição de Serra Talhada, José Edmar Bezerra Júnior. A faculdade tem cerca de 1.400 alunos e atende a maioria dos municípios do Sertão do Pajeú.

Na UFPE, uma mudança no currículo das licenciaturas deve melhorar a prática dos alunos. A carga horária de estágio obrigatório dobrou, passando de 400 horas-aula para 800. Outra medida foi reduzir o número de alunos por turma, para que o professor possa orientá-los melhor. Em vez de 60, agora são 30. “Estamos realizando também um cadastro das escolas que recebem nossos alunos para estagiar. O controle do estágio está mais rigoroso”, conta a coordenadora das licenciaturas, Fátima Cruz. A UFPE ficou com nota baixa em geografia (2).

Nenhum comentário:

Postar um comentário